segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A LÍNGUA FALA POR NOSSOS SÍBOLOS INCONSCIENTES

Francisco Miguel de Moura*

             Primeiramente, não pensemos que o que escrevo é a verdade. Nenhum filósofo chegou à verdade absoluta. A verdade absoluta é inatingível. Estamos apenas dando alguns toques do que pensamos e creio que outras pessoas, como nós, andamos aí por perto, tentando explicações.
             Quando alguém disse “eu não sei nem que de nada sei.”, não estava fazendo trocadilho, apenas disse o que há de mais correto, no mundo nosso conhecido.
Não enxergamos nada além do que diz o nosso cérebro, ele é que fala por nossos pensamentos. Os pensamentos se traduzem para o mundo em forma de palavras, linguagens. Porque as palavras são incomunicáveis, quando se quer que elas traduzam exatamente o que sentimos. Todas as linguagens, a começar da palavra, são feitas de símbolos. Símbolos há por toda parte, pois é através deles que nos retratamos com perfeição. Cada palavra é símbolo, por mais simples que seja. Ai! Cada grupo de palavras (frase) é formado pela interposição de símbolos. Daí a necessidade que temos de interpretação. É simples, basta escutar os diálogos das novelas televisivas. Quando um personagem diz uma coisa que parece muito simples, ex.: “Eu não gosto dela porque não gosto”. Outro responde; “Como assim?” Precisamos cada vez mais de palavras, de mais símbolos e nunca chegamos ao que entendemos (ou simulamos entender) do outro. 

         Daí as dúvidas, as comparações, anti-nomias, as confusões.  Precisamos de outros símbolos para nos entendermos além da razão, do natural. Natural é a matemática? Vamos ver:  “Caetano Veloso diz que 2 mais 2 são 5”. E daí? Ele tem razão. O “eu” que emitiu a sentença também está ali, formando o 5. Pois o sujeito acompanha qualquer frase, qualquer pensamento, qualquer palavra: é o subjetivo. Ao real, na matemática chegamos falando com todo o nosso eu, que é um só mesmo que seja mudo. Vamos fundo na simbologia dos números e do pensamento e então descobriremos que o número que existe é o nº. 1, seja um positivo, seja um negativo. Frações do 1, que são infinitas, tanto negativas quanto positivas não são números. Os outros números, por exemplo 2, são a repetição do 1. Isto é racional. Depois do racional, só nos encontraremos nos gestos referentes a alguma outra coisa que não nós dois. Coisas (objetos, palavras, ações, etc.) de que ambos gostamos, amamos, ou que as fazemos. Mas mesmo assim não nos encontramos por inteiro. Há uma divisão em luta, dois “eus”. 

          Depois disto, vem à solidão – não aquela a dois, a três, à multidão, mas a solidão verdadeira, a solidão a um. Esta é a única conversa que podemos ter: a conversa com o seu próprio ser, o seu próprio pensamento.

          O mundo rola assim, por isto é que há muitas religiões (que é uma religação com Deus) – Ele é o número 1, e nós fazemos parte deste 1, que é Deus, o Criador de tudo. Por isto é que ninguém chega a entender os credos religiosos, todos feitos com símbolos muito mais antigos, nascentes com a linguagem, do mudo, do surdo, não importa.

          Há muita gente que diz que o mundo é complicado. Mas nós somos o mundo, por isto e por nós vêm todas as complicações da vida social, política, econômica, artística, religiosa.

          Há o ditado da sabedoria popular, que diz que “Deus escreve certo por linhas tortas”. Ou foi na Bíblia onde fui buscá-lo? Esse livro foi inspirado por Deus, mas, realmente escrito por homens, guardando em si histórias e fatos acumulados por séculos. E o tempo é sempre vivo. Não importa. O mais importante é que, parafraseando a frase acima, a gente diz e diz bem: “O homem escreve errado por linhas certas”. Ou lhe parece.  Nós só entendemos a linha, nunca imaginamos que no universo tudo é curvo, como nosso cérebro – miniatura do Grande Universo.

         Na verdade, as línguas não são traduzíveis, fazemos a imitação. É preciso saber a outra língua para entrar naquele universo, nos seus símbolos. Traduz-se o que a gente acredita ser o conteúdo, mas o conteúdo sem o continente o que pode ser? Pouco. Deturpação. Se nem a língua de cada um dos nossos “eus” entendemos!

Aqui, então, nos valemos da sabedoria de um doutor em psicanálise, em psicologia, o escritor e professor Augusto Cury:

         “O pensamento consciente é de natureza virtual e, portanto, não incorpora a realidade do objeto pensado. O que significa isso? Tudo o que um pai fala ou discorre sobre um filho, um psicólogo sobre um paciente, ou um professor sobre um aluno jamais incorpora a realidade mental ou psíquica daqueles sobre quem se fala. Há um anti-espaço nas relações pessoais. Através desse espaço, estamos próximos fisicamente, mas infinitamente distantes em termos psíquicos um do outro”.

          Noutra parte, eu li e absorvi de Augusto Cury, no seu livro “Ansiedade – Como enfrentar o mal do século”, Editora Saraiva, São Paulo, 2014, escrevendo, o que na certa já havia falado em suas palestras e cursos: Nenhum médico sente a dor do seu paciente, ninguém sente a dor do outro. Nosso sentimento é apenas virtual, não tem condições de chegar ao âmago da coisa.

            A solidão nos acompanhará pela vida inteira. Somente a dor nos faz enxergar que nada somos.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da Academia Piauiense de Letras e da IWA - Associação internacional de Escritores e Artista

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