sábado, 14 de março de 2015

A PEQUENA VIDA PRIVADA DO BRASILEIRO

Francisco Miguel de Moura*


Pense, meu querido leitor, num lugar onde você desejaria estar só no mundo. Entrar pra esse lugar e despir-se de tudo: Sapatos, chinelos, gravata, bolsa, celular, cinto, lenço... Descer as calças, a ceroula (ou a calcinha, conforme o sexo), pendurá-los no torno. Relógio e óculos, também deles libertar-se, mesmo sendo míope. Ficar sozinho e Deus, de porta trancada, com um livro, ou o jornal de hoje, ontem, de anteontem, da semana passada... Ou qualquer outra literatura (para banheiro, por exemplo). Não vá ler tudo, o tempo é curto (embora você queira que seja indeterminado).  Abra a primeira página e capte uma bonita imagem. Descontraia-se e faça suas necessidades fisiológicas. É quando lhe vêm mil idéias, você não vai poder realizá-las nem ali nem lá fora, mas pode muito bem escolher uma sem interferência. Sem dúvida, acabou de descarregar as tensões de ontem. Começa uma nova aurora. No fundo de seu ser o pensamento já mudou. Aí se levanta leve, lava as mãos, veste-se e se calça. Já havia feito a primeira higiene do dia: escovar os dentes. 

Agora, está aí, pronto.  Mas, se puder sair, saia tranqüilo para a agitação lá fora.  Acaba aqui sua vida privada.  Mesmo curto, esse exercício é necessário à saúde corporal e mental. Mesmo que doa, se tiver hemorróidas.  Pois a vida pública é a das leis sociais/morais (não escritas) e também a das leis do país (sempre cumpridas apenas quando em benefício dos que governam, dos que fazem referidas leis).  E para elas, por elas - as duas - é que se fazem a sociedade.

Perguntar-me-ão: Cadê a lógica dessa dissertação toda, que até parece tola? 

Respondo: Tentei fazer uma metáfora da vida privada do brasileiro em paralelo com a vida PRIVADA dos que detêm o poder político. Todos nós andamos em busca de reconhecimento. Mas a vida (na) privada e (no) público necessita daqueles poucos minutos. 

No socialismo perdia-se totalmente esse ser “privado”, pois a toda hora e em todos os minutos a polícia-política ia atrás de nós, vigiando nossos passos e... Aqui também somos vigiados pela a mulher e vice-versa, pelos filhos, pelos vizinhos, pelo patrão, pelos colegas. Fora de casa tudo é público. Agora mesmo, estamos estarrecidos com o que aconteceu com a PETROBRÁS – empresa do orgulho nacional, pela qual tanto se lutou há décadas, parte da história do Brasil, por sua honradez, progresso e inteligência. E agora distribuída em partes donatárias – em que o maior pedaço é do PT, partido que tomou conta do país há quase uma dúzia de anos. O processo “Lava Jato”, não lava o rosto de ninguém, mostra o rosto dos que estão sujos, os que devem ser afastados definitivamente da política, para o bem do país e dos brasileiros. PETROBRÁS, o melhor e mais bem público da nação caiu em mão de gente sem caráter. Não sei se, depois de tanta conversa, tal processo não se tornará uma grande “pizza”, para a politicagem nacional. Mas, o jeito que tem é aguardar a Justiça. 

Pense bem, leitor, aí, quando você quer se recolher a um lugar tranqüilo para ler coisas boas, pega o jornal do dia, e o que vê: essa sujeira toda mostrada pela imprensa, a vida da rua, a vida pública repleta de crimes e roubas, furtos e assassinatos, a insegurança em toda parte, a droga e as armas soltas e entregues a menores, que não têm nada de menores: são uns marmanjões que, muitas vezes, livram o rosto dos verdadeiros assassinos. Só em matéria do direito à vida, ao ir e vir, à propriedade privada, à saúde e à educação se estribam os acontecimentos policiais e judiciais. Acabou-se a vida, salvo na privada. Tudo é de domínio público, para o roubo, o desperdício, a maldade e o sofrimento das pessoas de bem. Está tudo trocado, o mundo virou de cabeça pra baixo. Uma guerra surda que é gerada pela corrupção, pela maldade política, pela falta de educação. Uma guerra diferente, civil e servil para que os mesmos continuem os mesmos. E nada, nada mude, senão pra pior. 

Estou pessimista? Não acredito. A realidade do que digo está aí, ponha a cabeça para fora do basculante de sua privada e veja.
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*Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras.E-mail:franciscomigueldemoura@gmail.com


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