quinta-feira, 10 de outubro de 2013

"NEBULOSAS", DE ANTONIO CHAVES

Francisco Miguel de Moura*

 

                                                                                                
         Fez muito bem o historiador Reginaldo Miranda da Silva, atual Presidente da APL, em incluir na COLEÇÃO CENTENÁRIO e publicar o livro de poemas “Nebulosas”, de Antônio Chaves, na véspera do centenário da Academia Piauiense de Letras. 

   Fundada em 30-12 - 1917, a entidade prepara-se para os 100 anos de existência. É a mais antiga instituição cultural contínua do Piauí.

   Antônio Chaves nasceu em Teresina, Piauí, aos 26-4-1883 e faleceu em 22-2-1938. É ele um dos 10 fundadores da “Casa de Lucídio Freitas”, primeiro ocupante da cadeira nº 8, tendo escolhido como patrono o poeta José Coriolano da Silva Lima (J. Coriolano). Reginaldo Miranda da Silva aponta sua pequena bibliografia: “Almas irmãs”, em parceria com os poetas Celso Pinheiro e Zito Batista, em 1907; “Poemas de mágoas”, 1909; mas veio a consolidar sua glória de poeta com “Nebulosas”, 1916. Depois continua publicando poemas em jornais e revistas, que ficaram sem edição em livro. Naquele tempo não era fácil publicar, bem se avalia. Jornalista, colaborou em “Arrebol”, “Alvorada”, “Correio de Teresina”, e dirigiu o “Diário do Piauí”. Quando faleceu era alto funcionário público, portanto voltado para a vida prática (casa, família e trabalho), sobrando-lhe os dias de folga e as noites de lua, para as musas e a poesia. Atestam bem os seus contemporâneos e amigos, entre eles Celso Pinheiro, que Chaves aliava bem as duas tendências: de poeta e homem comum, era a cigarra e a formiga. São, aliás, qualidades que muito se assemelham às encontradas na minha poesia.

   A. Tito Filho, que provavelmente o conheceu, disse, na abertura da sessão de minha posse na Academia de Letras em 30-10-1990, que "Antônio Chaves era um poeta feio de versos bonitos” - provavelmente fazendo alusão à minha figura de também poeta feioso - completando que dirigia seus poemas a namoradas e/ou simpatizantes, isto é, amava a beleza da mulher, o belo da natureza e era pessoa de elevados sentimentos. 

    Certamente por isto seus versos encantam: cheios de noites enluaradas, de estrelas luminosas no firmamento, do viço e mocidade feminina da terra, de jardins, de paisagens, de flores que cheiram e de estações que passam. Mas não só por isto, sua poesia – rimada e metrificada - como era a moda da época parnasiano-simbolista, contém rimas ricas, “enjambements” e imagens significantes, singelas e substanciosas. Cada soneto é uma jóia fechado por excelente “chave de ouro”. Aponto aqui três como os meus escolhidos para uma antologia brasileira: “O teu sorriso”, “Soneto” e “Ao luar”, que terminam respectivamente nesses versos: “Das bênçãos deste amor que é minha vida”, “Vejo-te cada vez muito mais linda” e “A beleza imortal dos olhos dela”.  Seu livro é composto, em grande parte por sonetos, seguindo poemas longos ou curtos e também trovas trovando um mesmo assunto de cada vez, eis que formam geralmente um poema. Ele sentia a necessidade do verso livre, embora não abandonasse as rimas. Para isto, é necessário que se leia especificamente o poema “Em caminho da sesta”:

 “É belo andar-se por aqui... Parece 
Que se abrindo em sorrisos de beleza
A vida resplandece
Em toda a natureza. 

Na montanha, no vale na floresta,
Em cada flor, em cada arbusto, em cada ninho, 
Ouvem-se as vozes da primavera 
Entoando um cântico de festa
Com a alacridade de um passarinho 
Que lépido e sozinho, 
Ande a brincar por sobre as folhas de hera...” 

O poema é longo, deixo o restante para quem se dispuser a ler o livro. E digo, em poucas palavras: Antônio Chaves é um poeta lépido, límpido e lúcido. 

Quando fui eleito para a cadeira nº. 8, da Academia Piauiense de Letras, senti-me duplamente recompensado, tomando conhecimento do seu primeiro ocupante, o singular poeta Antônio Chaves, tão esquecido, agora resgatado nesta bem organizada edição, enriquecida com prefácio da Profª. Maria do Socorro Rios Magalhães e orelha de Reginaldo Miranda da Silva.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, mora em Teresina, Piauí. Membro da Academia Piauiense de Letras, da União Brasileira de Escritores-SP e da Associação Internacional de Escritores e Artista - Estados Unidos.
                         


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