quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O NOBEL PARA LÊDO IVO (1924 – 2012)

Francisco Miguel de Moura
Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras
   
   Justo, urgente, necessário teria sido o Prêmio Nobel de Literatura para o poeta e romancista LEDO IVO, nascido em Maceió-AL, em 18-2-1924 e falecido em Sevilha, Espanha, a 23-12-2012, onde pretendia passar o Natal. 
    Instigado pelo escritor português (de Lisboa, ao tempo ainda vivo) foi que trabalhei junto à Academia Piauiense de Letras para indicá-lo e terminei indicando, em 10 de dezembro de 2005, conforme documento assinado pelo presidente Paulo Freitas e demais acadêmicos presentes a mais recente Assembléia Geral ocorrida naquela instituição. O escritor Joaquim de Montezuma de Carvalho, historiador de grande projeção, já o tinha feito de forma particular, conforme as regras daquele Prêmio, lá de Lisboa. Nós o indicamos para o ano de 2006, repetindo o que havia sido feito no ano anterior. Não obstante as fortes razões, ele, infelizmente, não foi Premiado com o cobiçado laurel. Seria o primeiro escritor brasileiro e o primeiro prêmio a ser conquistado pela Literatura do Brasil. Ficamos órfãos e ainda estamos. 

    Assim começava meu arrazoado diante dos ilustres Conselheiros do Prêmio, na Suécia: - É possível que V. Exas. não conheçam esta sociedade de letras proponente – a Academia Piauiense de Letras. Talvez sequer saibam em que parte do Brasil fica o Estado do Piauí (Nordeste Ocidental), mas isto tem pouca importância. Depois da leitura e assinaturas deste requerimento de inscrição daremos todas as informações necessárias em documentos anexados. “LÊDO IVO”, no momento, é o poeta mais representativo de um lirismo nada piegas, de uma forma cada vez mais apurada sem ser extremo, radicando um humanismo não complacente e que a tradição literária tem conservado e anunciado em primeira mão como ciência do homem. Festejado pela crítica e pelos leitores, sua poesia o iguala aos mais importantes poetas deste país chamado Brasil, no século XX e começo do presente, quiçá do século anterior a estes. Acaba de completar seus 82 anos, premiado com grandes prêmios durante esse tempo, traduzido em vários idiomas e países. É para LÊDO IVO – membro da Academia Brasileira de Letras, com sede no Rio de Janeiro, sua cidade de adoção – que apontamos o Nobel de Literatura de 2006. Nossa Academia Piauiense de Letras, fundada em 30 de dezembro de 1917, bem que teria membros nossos a apresentar para o galardão: Assis Brasil e O.G. Rego de Carvalho, ambos nomes conhecidos nacional e internacionalmente, por suas excelentes obras de prosadores e pela crítica de fé que têm merecido, assim como por prêmios dos mais importantes com que foram galardoados. Mas não vamos apresentá-los agora para o glorioso Prêmio Nobel. Deixemo-los para outra oportunidade, talvez no próximo ano, quando poderemos fazer nova propositura. O prêmio maior de Literatura, agora, deve ser de LÊDO IVO, poeta dos mais originais e brasileiro filho do Nordeste, conhecidíssimo no Brasil inteiro e no Exterior, pelo seus frutuosos sessenta anos de artista da palavra, quando acaba de lançar sua Poesia (completa). Homenagens lhe foram prestadas por todo este país, inclusive no nosso Piauí. Teresina, Capital, sede da Academia Piauiense de Letras, através da revista “Presença”, nº 32, do 2º semestre de 2004, publicação oficial do Conselho Estadual de Cultura, com matéria alentada e da maior importância, ressaltando sua poesia por ocasião da comemoração das seis décadas de atividade intelectual. Como exemplo das homenagens recebidas por LÊDO IVO, enviamos-lhes a revista “Presença”, junto com alguns documentos desta Academia. Sabemos que essa Real Academia já possui as obras do nosso notável proposto, LÊDO IVO, Acadêmico da Academia Brasileira de Letras, repetimos – cuja indicação inicial para o NOBEL coube ao escritor Joaquim de Montezuma de Carvalho, individualmente e em nome de agremiações culturais a que pertence em Portugal (Lisboa) e noutros países, historiador português de grande conceito, conhecido e publicado na Europa e nas Américas.  Será que a Academia Brasileira de Letras não o tenha proposto antes de nós? Tanto melhor.  O próprio Joaquim de Montezuma de Carvalho, de quem conhecemos o teor de seu requerimento-proposta, em carta recente, inclusive publicada nos jornais “Diário dos Açores”, das Ilhas dos Açores, e “O Primeiro de Janeiro”, de Porto, Portugal, deu a conhecer a V. Exas. de um pouco de sua poesia, transcrevendo o poema Minha Pátria, que é um dos mais importantes da pena desse grandioso poeta. Por nossa parte, queremos mostrar-lhes, antes de tudo, o início do poema denominado “O Caminho Branco”, que reputamos da mesma altura da poesia de portugueses como Fernando Pessoa, Teixeira de Pascoaes, Mário Sá-Carneiro ou dos brasileiros Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira, todos falecidos, os quais, a nosso ver, eram merecedores do galardão.

     Aqui vai parte do poema, para o leitor tomar gosto:
“Vou por um caminho branco. / Viajo sem levar nada. / Minhas mãos estão vazias. / Minha boca está calada. / Vou só com o meu silêncio / e a minha madrugada. / Não escuto entre os barrancos /a voz do galo estridente / que, na treva do terreiro, / anuncia as alvoradas. / Nem mesmo escuto minha alma: / Não sei se ela vai dormindo / ou me acompanha acordada, / se ela é vento, se ela é cinza /ou nuvem rubra raiante / no dia que se levanta / como vela desdobrada / em nave que corta as vagas. / Nem sei nem mesmo se é alma / ou apenas sal de lágrimas. / Vou por um caminho branco / que parece a Via Láctea. / Só sei que vou tão sozinho / que nem sequer me acompanho, / como se eu fosse um caminho /  pisado por vulto estranho. / Não sei se é dia ou se é noite / o que surge à minha frente, / se é fantasma do passado / ou vivente do presente. / Não sei se é a torrente clara / da água que corre entre pedras / ou se o gavião me espreita / oculto no nevoeiro, / espantalho prometido / ao meu dia derradeiro”. 

  Gostaria de mostrar o poema inteiro, tão importe quanto “O Corvo”, de Edgar Alan Poe. Mas voltarei ao assunto LEDO IVO brevemente.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...