sábado, 30 de junho de 2012

CEL OCTÁVIO MIRANDA (1912 – 2002)

Francisco Miguel de Moura
Escritor, poeta e opinionista do jornal "O Dia"
Membro da Academia Piauiense de Letras

       

A vida das pessoas é contada não apenas pelo dias que vivem, mas pelas ações que praticam – não sei de quem é este pensamento que já se tornou popular. Assim, explico por que comecei minha crônica citando o nome e ano de nascimento e morte do Cel. Miranda: - pelo costume que têm os historiadores de mostrarem o tempo em que viveu um homem ilustre, para então situarem suas ações dentro do contexto social. Neste caso, para o Cel. Miranda, um século seria pouco. Teve vida muito movimentada. Foi militar. No Rio de Janeiro, galgou vários postos importantes e exerceu missões especiais, entre estas, a tomada do Palácio da Guanabara, assessorando as forças que elevavam Getúlio Vargas ao poder. Já no Piauí, teve atuação importante (Comandante do 25° Batalhão de Caçadores) quando Petrônio Portela esteve prestes a ser derrubado do poder, assegurando sua permanência, naquele período turbulento do pós-1964. Foi deputado estadual em duas legislaturas – numa delas deputado constituinte. Entre outras entidades, a Academia Piauiense de Letras, na reunião de sábado passado (23-6-2012), prestou-lhe a homenagem merecida, pelo transcurso do centenário do seu nascimento. O acadêmico Celso Barros comunicou inicialmente ter sido convidado pela família para a solenidade em Campo Maior, terra onde nasceu. Ele próprio declarou que, por convite do próprio Miranda, durante algum tempo foi o editorialista do jornal O Dia, missão bastante pesada, em virtude de tantos compromissos de advogado. A uma só voz os acadêmicos passaram a relatar e louvar o trabalho do Cel. Otávio Miranda como empresário e os predicados do cidadão. No que toca à cultura, O Dia - jornal que modernizou, passando a seus filhos - continua como um dos mais fortes baluartes da informação na capital e no estado, divulgando e opinando sobre a vida social, política e econômica.  Assim, sua vida e sua obra influíram no crescimento, progresso e riqueza social do estado do Piauí e, principalmente, de Teresina.  O Cel. Miranda foi um desses homens sempre ativos, nunca desistindo dos seus projetos. Atuou em vários frentes: No comércio de autopeças, inovando o mercado, e no de imóveis também. Criou e construiu o Jockey Clube, uma Cooperativa de Crédito Agrícola, uma Fábrica de Cerâmica, agindo ainda na produção rural com sua fazenda em Campo Maior.  E, por último, investiu nas comunicações: rádio, tevê e jornal, – sendo O Dia, o mais antigo jornal que circula no Estado e um dos mais modernos.  Muitos políticos e administradores declararam (e continuam hoje a afirmar) que o jornal do Cel. Miranda era o que trazia as informações mais claras e corretas com relação à política, sem proselitismo nem preferências. Como amigo e colaborador de O Dia, desde os primeiros anos que aqui cheguei, senti que sua empresa foi injustiçada por não haver ganhado a concorrência para obtenção do canal aberto de tevê.

Por minha parte, posso dizer que privei com o Coronel, desde que aqui cheguei, principalmente por ser colega do funcionário do Banco do Brasil, José de Jesus Trabalho Sousa, ao tempo casado com a Valcira, uma das filhas do Coronel. Sempre fui bem recebido e atendido, obtendo a divulgação desejada quando fui presidente da UBE – União Brasileira de Escritores Piauienses, a qual ainda hoje mantém um espaço no jornal O Dia.  Por isto, posso afirmar que era um grande empresário, mantendo relações sem conflito com os seus comandados. Estão aí os mesmos que trabalhavam no jornal, na década de 1960. Para citar alguns: Deusdeth Nunes (Garrincha), Elvira Raulino, Carivaldo Marques (hoje diretor Industrial da empresa) e tantos outros que não recordo o nome. Quando comecei a freqüentar as páginas de O Dia, havia um moço jornalista, comunista, chamado Menezes de Moraes, e nem por isto o Coronel fez restrições ao seu trabalho. Funcionário dos primeiros tempos do jornal até hoje, o arquivista Waldir da Silva Castro, quando o abordei, ele me disse: - o Coronel era uma pessoa muito boa, diferente da cara que mostrava de imediato. Tudo o que queria é que o serviço fosse bem feito. 

Espírito forte e alma cheia de força. Acreditava muito na força do pensamento, daí algumas derivações para o que poderíamos chamar de espiritismo, mas não chegava a tanto.  Ação e fé, pensamento positivo e coragem, bondade e paixão por tudo quanto é humano, vivido e sentido – assim era o Cel. Miranda. Muito justas, portanto, as homenagens ora prestadas. Esta crônica é também uma homenagem a seus filhos Walmir, Volmar e Valcira Miranda, continuadores do seu trabalho e tradição.


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