terça-feira, 7 de junho de 2011

FRANCISCO CARVALHO: POESIA

Fortaleza, 07/05/2011

Caro Poeta
Francisco Miguel de Moura:

Obrigado pelo seu novo endereço residencial; já o coloquei nas minhas anotações. Obrigado, ainda, por me informar ser leitor de minha poesia, o que me honra bastante. De há muito leio sua poesia em jornais de todo o Brasil. Você é um poeta de grande popularidade, lido por apreciadores de literatura. Não lhe faço elogios gratuitos, apenas digo o que se comenta entre apreciadores da arte literária. Nenhum elogio gratuito, apenas me curvo à sua competência. Seu soneto ETERNA PAISAGEM, no verso da carta, corresponde à minha admiração e, com certeza, à de muitos outros leitores de poesia. Mando-lhe alguns sonetos inéditos guardados, à espera de publicação. No mais, um grande abraço do seu menor admirador,

                                                                           Francisco Carvalho
*

POESIA E SONETOS
No verso da carta de 07/05/2011, acima transcrita, o poeta Carvalho, me manda o poema “Borboleta”, de seu livro “Corvos de Alumínio”, 2007, agora aqui transcrito, tal como os 5 sonetos inéditos, anexados à correspondência.

BORBOLETA

Qual mensageiro da chuva,
a borboleta amarela
ou chega pelo telhado
ou entra pela janela.
Como se fosse uma nuvem
que anuncia as tempestades,
traz os aromas do inverno
dentro das asas molhadas.
Nas paredes, nos retratos
pousa o corpo de veludo.
Ali permanece imóvel
à espera dos ventos frios.
Só regressa quando chove
nas cabeceiras dos rios.

PEIXE AZUL
As estrelas te invejam. As estrelas
mais altas, mais brilhantes e mais puras.
Essas que nos contemplam das alturas
com seus raios de pontas amarelas.

Meus olhos te procuram nas janelas
das estrelas mais altas e mais puras.
Mas te encontro às portas das clausuras
onde os anjos te guardam das procelas.

Meu sonho te persegue a noite inteira,
entre lençóis que exalam teu perfume
de vinhos sazonados e gorjeios.

És a chama dourada da lareira,
que o vento não apaga, nem a espuma.
O peixe azul que te devora os seios.

SER TUDO É NÃO SER NADA

Sou o que escuta  a flauta dos gorjeios
o que foi carregado pelo vento
o que se perde em todos os caminhos
o peixe azul que te devora os seios.

O que se entrega a antigos devaneios
o que viaja sem saber se volta
o que foi a passeio em Cingapura
o peixe azul que te devora os seios.

O que foi namorado de uma deusa
o que aprendeu Camões na oitava rima
o que fez serenata para os veios.

O que alimenta os tigres da Malásia
o que namora os olhos das panteras
o peixe azul que te devora os seios.




ESTRANHAS BORBOLETAS

Pousam no espelho estranhas borboletas
De asas azuis lavadas pelo inverno.
Onde se guardam  versos num caderno,
A noite sai de dentro das gavetas.

As estrelas mais altas vão saindo
Do veludo das nuvens e aquarelas.
Contemplados de fora das janelas,
Os astros continuam reluzindo.

Para a ceia dos mortos nas tigelas
Anjos acendem velas cor de leite.
O mistério se alastra nas retinas

Das borboletas negras e amarelas
Que passeiam nas tardes cristalinas,
Sob uma luz de porcelana e azeite.

O SONHO DO VINHO
Chega cedo o fantasma da velhice
Com seu cortejo de melancolia.
Restos de sonhos, restos de alegria,
Não passa o amor de uma fugaz carícia

Que ilude o coração dos insensatos
Com a velocidade dos minutos.
O Cristo que pregava aos seus redutos,
Contesta os argumentos de Pilatos.

O amor é uma mentira sedutora.
Um convite do corpo que se entrega
Ao corpo que se despe e que se oferta

À sedução do enleio que se doura.
O vinho adormecido nas adegas
Acorda os astros, incendeia as trevas.




O TEMPO É NOSSO EPITÁFIO

O tempo passa, o tempo nos ilude.
O tempo nos pranteia a qualquer hora
quando amanhece, quando é noite escura,
quando a taça do amor nos comemora.

O eterno tempo escreve em nosso rosto
epitáfios de vento e primavera.
Rio de águas ardentes, nosso corpo
é fogo repentino que incinera.

Somos escravos do tempo que move
os nossos devaneios mais secretos
que escondemos à sombra dos espelhos.

O tempo nos enterra numa cova
com os versos que escrevemos e os sonetos
que foram novos e ficaram velhos.


OBSERVAÇÃO
Vaidade ou não, sou compelido a mostrar aos leitores  o soneto de minha autoria, elogiado pelo poeta Francisco Carvalho:
        
ETERNA PAISAGEM


      Francisco Miguel de Moura*


Havia a várzea verde e o canavial
E uma casa plantada lá na encosta
Do morro, onde subiram vezes tantas,
O menino e a menina, tranças soltas.


Nenhum sabia que ao subir o morro,
Outro mundo subia, nem sonhava
Que a inteira infância ia ficando atrás
E outro sonho talvez nascendo fosse...


Se apagasse a rotina lá do engenho
A moer cana, madrugada a dentro,
E as borbulhas do forno a faiscarem.


Mas subir é descer, no mundo estreito,
E o fogo que os queimava, sem respeito,
Transformou-se no cinza da paisagem.





             
                    **       

*Francisco Carvalho, poeta brasileiro, mora em Fortaleza-CE
*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, mora em Teresina-PI
http://cirandinhapiaui.blogspot.com

5 comentários:

Gisa disse...

Conversas entre poetas, um infinito prazer para os leitores...
Um grande beijo querido amigo

CHIICO MIGUEL disse...

Querida amiga Gisa,
Tua visita me enche de alegria, tua amizade é bálsamo do coração,teus escritos me alimentam o espírito pela beleza dos textos, pela singularidade do que escreves, por tudo enfim. Quisera eu ter tempo de visitá-la diariamente, mas as ocupações e agora a saúde, me afastam um pouco desse convívio tão agradável.
Também quero deixar meus parabéns,pelo aniversário, sendo como és gemininiana, ou completou ou
completará bem breve. Que sua vida, saúde e felicidade continue para alegria de todos nós.
abraços e cheiros
Chico Miguel

Clotildes disse...

Mas subir é descer,no mundo estreito,
E o fogo que os queimava,sem espeito,
Transformou-se no cinza da paisagem.

lindooooo!!! Poeta. Parabéns.

CHIICO MIGUEL disse...

Clô,
Obrigadíssimo pela visita ao meu espaço, Sei que visita mais do que comenta e fico alegre assim mesmo. Mas, de qualquer forma, o comentário fortelece o poeta,o convívio com o leitor melhora o espírito do poeta. Volte sempre.
Abraço afetuoso
Francisco Miguelde Moura

Anônimo disse...

Estes sonetos inéditos do poeta Francisco Carvalho, junto com este luar tornaram minha madrugada poetica. Saber que o mestre resiste com seus belos sonetos e poemas. Saber também que existe este blog e um outro grande poeta.
Torna a vida mais mansa e traz uma esperança nas asas desta borboleta amarela, que vem no nosso amanhecer.
Abraços poéticos.

Luiz Alfredo - poeta

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