quarta-feira, 8 de julho de 2009

O BANCO DO BRASIL E SUA FILA ÚNICA


Francisco Miguel de Moura*



Se a gente for, hoje, a qualquer agência do Banco do Brasil deparar-se-á com uma fila enorme, logo de entrada. Fila única. A questão de filas sempre foi um problema. Não sei se está acontecendo o mesmo noutros bancos, pois não tenho outros negócios senão os que dizem respeito a minha conta no Banco do Brasil, agência do centro, onde a mantenho desde 1964, quando aqui cheguei. A agência era única naqueles idos, tudo bem. Mas o Banco, não. Já existia o Banco Agrícola do Piauí, que depois se transformaria em Banco do Estado – recém falecido. Mas o que quero dizer mesmo é que o Banco do Brasil, por ser o primeiro a existir no país (criado em 12 de outubro de 1808 e realmente instalado em 11 de dezembro do ano seguinte), e por ter dado certo, era o padrão. E creio que ainda continua sendo padrão no sistema bancário. Por isto, logo no ano em que comemora o seu bicentenário, não podemos admitir que as leis que temos de proteção ao idoso, aos deficientes, às mulheres grávidas sejam descumpridas com uma simples fila única de entrada. A fila especial tem que ter e eu explico. Velhos, deficientes, grávidas têm mais dificuldade de locomover-se que os outros, assim é que chegam ao salão de entrada do banco e já encontram a fila enorme. A aí, como é que fica? Vão receber senhas muito avançadas, além de esperarem enormemente na fila única. Vão esperar dentro e fora. Essas pessoas referidas têm preferência no atendimento. É claro que entre eles vai existir uma fila, mas não é tão enorme como a fila única. Pode muito bem ser criada uma sala “vip”, com cadeiras para eles, dentro do banco.

No geral, não sei como admitir-se fila única, partido único, regime único, presidente sendo repetidamente eleito no cargo – tornando-se o único numa geração e, Deus nos guarde, nas seguintes. Lembra em tudo a ideologia do estalinismo, do partido único, do país único (para os comunistas daquele tempo, a União Soviética; para os capitalistas de hoje, os Estados Unidos). E sabem em que isto deu? Deu na chamada “globalização” – contrafação do estalinismo apenas nominalmente – globalização apenas do sistema financeiro, que é o que interessa ao capitalismo. Em outros setores, nada se fez, ao contrário tudo foi feito para piorar: O trabalho não foi globalizado, o ir-e-vir também não; a educação e a saúde, voltaram praticamente a zero. Quem não tem um plano de saúde – e só os ricos podem pagar – vai penar nas garras do SUS (se não me engano, sigla de Serviço Único de Saúde) pública. Lá vem de novo o “único”.

Tenho medo da unidade. Lembram, em matéria de religião, quando praticamente a Igreja Católica era a única? – Quem esqueceu da terrível força e crueldade da Inquisição?

Voltando ao assunto inicial, acredito que ainda há cabeças inteligentes, pensantes e sadias dentro do quadro dirigente do Banco do Brasil, incluindo aqui diretores e presidente. E sinceramente espero que reestudem o assunto e retifiquem esta falta (no meu entender, ilegal e antiética) que se instala em empresa de tão elevada tradição, justo quando comemora seu bicentenário. Não custa nada, acho até que sai mais barato e mais bonito, livrar-se da fila única. Único somente o indivíduo, a criatura e esta é criada por Deus e não pelos homens. A pessoa é social e social significa comunicação, transformação, humanização. Não só máquina, não só dinheiro, não só razão. Somos homens dotados de razão e sentimento. Para que dizer mais?

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*Francisco Miguel de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras

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