DESCAMINHOS
Francisco Miguel de Moura*
I
Veredas entre galhos e frondosas
árvores cheias de vozes pipilantes,
entre urtigas e o som das alpercatas,
os pés pisando agudos carrapichos...
Meus caminhos se foram sem um elo.
II
Outros caminhos piso muito estranhos
e negros como as noites sem luar,
entregues aos lanceiros e aos ladrões,
onde pássaros são tristes pesadelos.
III.
Entradas longas de doer na vista,
branco nenhum. É o suplicante asfalto,
placas velhas, não dizem porque vão,
entre curvas sem tempo pra chegada.
São pertos e são longes, muito longe,
mais que o tempo que temos para amar.
IV
Sem sentir, sem soar, parado o ar...
Arre, um pretume dentro, tão sisudo
e a sonolenta vontade de chegar!
V
Chegar onde? Nem mais placas se vê,
que os mutantes mandaram arrancar.
Arre, estradas sem
luz! Como acordar?
VI
Caminhos meus, se foram aos novelos
da vida. Tanta noite e sons malditos
perdidos, no meu peito, sem os gritos
desta alma que se morre por perdê-los.
-------------
*Francisco
Miguel de Moura, poeta brasileiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário