ONDE ESTÁ A FELICIDADE?
Francisco Miguel de Moura*
Cientistas,
filósofos, poetas, profetas, ninguém até hoje conseguiu dizer bem o que seja a
felicidade. Mas todos os homens e mulheres andam pelo mundo em busca dessa
quimera.
Taí, parece-me que eu a
defini: - uma quimera.
O poeta quando escreve o
poema que pretende seja o melhor de sua vida e logo depois vê que não era bem o
que sentia, falta alguma coisa, sobra algum defeito; o político que ascende ao último grau de sua
carreira mas sente-se frustrado porque não conseguiu realizar tudo o que se
propôs, reclamará pelo menos para si mesmo: 'não
sou um homem realizado, falta isto ou
aquilo'; o cientista que descobriu o
remédio para um tipo de doença, o câncer por exemplo, mas em si mesmo não
consegue evitar uma gripe; o filósofo
que não explica o que é felicidade por mais que se esforce; o santo profeta que consegue prever uma
catástrofe mas, quando esta chega, fraqueja na fé; o homem comum que não consegue entender o
porquê de uns serem bons e outros tão
maus, o porquê de tanta violência e
falta de amor – todos eles estão buscando um meio de ser feliz. Mesmo os
que fazem o mal, sempre o mal, embora estejam enganados, no fundo buscam uma
forma de felicidade.
Numa crônica que li
recentemente, a cronista Arita Damasceno Pettená, de Campinas-SP, desfila uma
interessante série de atos, meios e formas que augura para a felicidade em sua
vida: " Quem me dera / no final da existência / sentir da vida / ainda
que de leve / a migalha ínfima / de um amor cristão. / Chorar baixinho / e
receber de alguém / a mão amiga / a enxugar-me o pranto / um lenço branco / a
me dizer: meu bem. / Repartir alegria / dividir tristezas / sonhar juntinhos /
no mesmo abraço / trocar carícias / sem ferir ninguém. / Contar histórias /
ouvir respostas / beijos e juras de 'eu te amo' / como se o tempo todo / ainda
fosse pouco / para viver ternura tanta. / Envelhecer unidos / e de cabelos
brancos / e de mãos cansadas / chegar sorrindo / ao final da estrada."
Fazendo um esforço de
captação do que a poetisa considera como momentos felizes, vamos encontrar as
seguintes idéias–força: – o amor, a repartição de alegrias e tristezas, o
sonho, a comunicação (especialmente de ternuras), o casal (e a união) e o final feliz. Tudo
isto, mesmo que em meio de algumas contrariedades e tristezas.
A
felicidade, concluímos, é uma coisa espiritual. Portanto, objetivamente ela não
existe, salvo no caso daquele homem que, ao esposar uma dama de sua paixão,
chamada "Felicidade", exclamou: "Eu
sou feliz!" O que existe são
momentos felizes.
E ainda assim há pessoas
esclarecidas, até filósofos da ciência e da cultura, que dizem: Ah! a ciência
não busca a felicidade! Ela busca o conhecimento. E nem sempre o conhecimento
trás a felicidade, porque ele muitas vezes pode derrubar os sonhos que
acalentam as almas.
Outros, estes cientistas
sociais, que não titubeiam em proclamar que o Estado é desnecessário, qualquer
controle é desnecessário para a sociedade, a felicidade é melhor encontrada
pelo homem sem nenhum controle social. Ela é individual, não coletiva.
Referindo-se às doutrinas utópicas e combatendo-as, um certo autor que não vem a pelo nomeá-lo
aqui, escreveu: "A felicidade é tão
local quanto os problemas que causam
sofrimento".
Então, leitor, você acredita
que a felicidade é apenas individual, pode e deve ser encontrada pelo indivíduo
sem qualquer intermediação, seja do Estado, seja de religião, seja das
correntes filosóficas ou de outras utopias?
Vicente de Carvalho, poeta
brasileiro do parnasianismo, escreveu um soneto primoroso falando
A
felicidade é sempre uma busca de religação. Daí porque ninguém pensa em ser
feliz sozinho, pensa-se
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P.S. ; Peço perdão pelo tamanho do artigo, mas achei por bem não dividir em dois afim de que o leitor venha a sorver de uma vez, sem pausa. Se eu errei, me perdoem.
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