terça-feira, 14 de janeiro de 2025

  

        

 ONDE ESTÁ A FELICIDADE?                                     

                                                             Francisco Miguel de Moura*                

          Cientistas, filósofos, poetas, profetas, ninguém até hoje conseguiu dizer bem o que seja a felicidade. Mas todos os homens e mulheres andam pelo mundo em busca dessa quimera.

Taí, parece-me que eu a defini: - uma quimera.

O poeta quando escreve o poema que pretende seja o melhor de sua vida e logo depois vê que não era bem o que sentia, falta alguma coisa, sobra algum defeito;  o político que ascende ao último grau de sua carreira mas sente-se frustrado porque não conseguiu realizar tudo o que se propôs, reclamará pelo menos para si mesmo: 'não sou um homem realizado, falta isto ou aquilo';  o cientista que descobriu o remédio para um tipo de doença, o câncer por exemplo, mas em si mesmo não consegue evitar uma gripe;   o filósofo que não explica o que é felicidade por mais que se esforce;  o santo profeta que consegue prever uma catástrofe mas, quando esta chega, fraqueja na fé;  o homem comum que não consegue entender o porquê  de uns serem bons e outros tão maus, o porquê de tanta violência e  falta de amor – todos eles estão buscando um meio de ser feliz. Mesmo os que fazem o mal, sempre o mal, embora estejam enganados, no fundo buscam uma forma de felicidade.

Numa crônica que li recentemente, a cronista Arita Damasceno Pettená, de Campinas-SP, desfila uma interessante série de atos, meios e formas que augura para a felicidade em sua vida:  " Quem me dera / no final da existência / sentir da vida / ainda que de leve / a migalha ínfima / de um amor cristão. / Chorar baixinho / e receber de alguém / a mão amiga / a enxugar-me o pranto / um lenço branco / a me dizer: meu bem. / Repartir alegria / dividir tristezas / sonhar juntinhos / no mesmo abraço / trocar carícias / sem ferir ninguém. / Contar histórias / ouvir respostas / beijos e juras de 'eu te amo' / como se o tempo todo / ainda fosse pouco / para viver ternura tanta. / Envelhecer unidos / e de cabelos brancos / e de mãos cansadas / chegar sorrindo / ao final da estrada."

Fazendo um esforço de captação do que a poetisa considera como momentos felizes, vamos encontrar as seguintes idéias–força: – o amor, a repartição de alegrias e tristezas, o sonho, a comunicação (especialmente de ternuras),  o casal (e a união) e o final feliz. Tudo isto, mesmo que em meio de algumas contrariedades e tristezas.

         A felicidade, concluímos, é uma coisa espiritual. Portanto, objetivamente ela não existe, salvo no caso daquele homem que, ao esposar uma dama de sua paixão, chamada "Felicidade", exclamou: "Eu sou feliz!"  O que existe são momentos felizes. 

E ainda assim há pessoas esclarecidas, até filósofos da ciência e da cultura, que dizem: Ah! a ciência não busca a felicidade! Ela busca o conhecimento. E nem sempre o conhecimento trás a felicidade, porque ele muitas vezes pode derrubar os sonhos que acalentam as almas.

Outros, estes cientistas sociais, que não titubeiam em proclamar que o Estado é desnecessário, qualquer controle é desnecessário para a sociedade, a felicidade é melhor encontrada pelo homem sem nenhum controle social. Ela é individual, não coletiva.

Referindo-se  às doutrinas utópicas e combatendo-as,  um certo autor que não vem a pelo nomeá-lo aqui, escreveu: "A felicidade é tão local  quanto os problemas que causam sofrimento".

Então, leitor, você acredita que a felicidade é apenas individual, pode e deve ser encontrada pelo indivíduo sem qualquer intermediação, seja do Estado, seja de religião, seja das correntes filosóficas ou de outras utopias?

Vicente de Carvalho, poeta brasileiro do parnasianismo, escreveu um soneto primoroso falando em felicidade. Eu não quero terminar a crônica sem citá-lo: "Só a leve esperança, em toda a vida / disfarça a pena de viver, mais nada; / nem é mais a existência, resumida, / que uma grande esperança malograda. // O esterno sonho da alma desterrada, / sonho que a traz ansiosa e embevecida, / é uma hora feliz, sempre adiada / e que não chega nunca em toda a vida. // Essa felicidade que supomos, / árvore milagrosa que sonhamos / toda arreada de dourados pomos, // existe, sim: mas nós não a alcançamos / porque está sempre apenas onde a pomos / e nunca a pomos onde nós sonhamos."

          A felicidade é sempre uma busca de religação. Daí porque ninguém pensa em ser feliz sozinho, pensa-se em reparti-la. O sonho é para frente. A felicidade... quando pensamos nela, é que já ficou. 

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P.S. ; Peço perdão pelo tamanho do artigo, mas achei por bem não dividir em dois afim de que o leitor venha a sorver de uma vez, sem pausa. Se eu errei, me perdoem.

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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina. Seu e-mail: franciscomigueldemoura@gmail.com

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

 


NÓS SOMOS A CAVERNA 

                     Francisco Miguel de Moura*

 

Há pessoas que, em frente a uma fogueira,

Falam, caminham tudo a discutir,

Lenha atiçando e se aquecendo à beira

Vão a vida cantando até sorrir...

 

Sequer se lembram da caverna em frente

Onde se abriga a gente mais sofrida

Da humanidade, numa eterna lida,

Com medo dos que estão alegremente...

 

Lá nem se comunicam... Estão presos

A um obscuro mundo do existir,

Os corações batendo... Olhos acesos...

 

Perdidos como estão, na ignorância,

Os corações pulsando já sem ânsia,

Agregados a um tempo sem porvir.

 

                       Teresina, PI, 11.01.2025.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

 


LOUVOR ÁS MULHERES

 

                    Francisco Miguel de Moura*

 

Faço um louvor a todas as mulheres

dos encontros na rua dos meus dias,

nos passeios, nas lojas, padarias...

Onde apareçam essas deusas Ceres.

 

Delicadas, falantes, fortes, belas,

seu cheiro acende os mais sutis desejos:

Os pés, as mãos, os braços... e seus beijos

que têm o mel celeste das estrelas?!

 

Brilhantes olhos que nos iluminam,

por elas vou pra arena, sou suicida,

pois, senhoras do mundo, nos dominam.

 

Como Jesus falou numa outra cena,

deve também ter dito a Madalena:

“No meu caminho, sois verdade e vida”.

 

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

 


  A TENRA INFÂNCIA

 Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina-PI

 

          Todos nós somos sedentos de conhecer fatos da nossa infância, principalmente dos anos mais tenros, quando a memória ainda não tem condições de guardá-los. O homem é um animal histórico. Sem história, o homem não existe. E se não conseguimos lembrar os acontecimentos e atos anteriores aos quatro anos, salvo algumas vagas impressões visuais – aquelas que nos tenham marcado em profundidade – vemo-nos como se tudo não passasse de pura ilusão da mente.

         Acontece, às vezes, de alguém da família contar-nos algum passado interessante. E aquilo fica tão longe, tão longe, num cantinho da memória, que quando crescemos dá-nos a impressão de que o vivenciamos realmente.

         Quando me olhava pensando na primeira infância sentia o gosto do vazio. Tudo o que me falava por dentro era uma espécie de sombra do que me disseram e, aleatoriamente, num passe de mágica, eu ia incorporando à memória recente, de tal maneira que tudo resultasse numa pasta informe. Daí a sensação do escuro, do limbo.

         Essa situação era de perceber fortemente até quando fui ao interior e estive na casa de tio Toinho. Ele me contou então, passagens importantes da vida de meu pai, Miguel Guarani, inclusive a explicação desse epíteto. Entregou-me, na ocasião, cartas e documentos da maior valia. Eu nem suspeitava que os guardasse, por ser ele um dos mais novos dos meus tios paternos.  Foi nessa ocasião que me contou, em tom de anedota, de brincadeira, o que eu nem sonhara.

         - Chico – disse-me o tio Toinho – de você, ainda pequenino, eu me lembro do seguinte: Tinha terminado a desmancha” (farinhada) na “Serra” e compadre Miguel – os irmãos tratavam-se assim, desde que um fosse padrinho do filho do outro – pediu-me que levasse comadre Zefa (sua mãe) e os meninos para o “Curral Novo”. A menina menor era levada pela comadre, no colo; Teresa, a outra sua irmã, ia comigo. Você foi colocado no meio de uma carga de jacás cheios de goma, farinha, crueira, redes e os restantes dos apetrechos de casa. A certa altura, no meio da estrada, uma moita que se estendia em galhos e cipós à margem, mas já cobrindo a passagem, lhe pegou pela testa e jogou no chão.

         - E eu teria quantos anos, tio? – perguntei, atalhando-o.

         - Uns três mais ou menos.

         - E daí, que aconteceu comigo, tio Toinho? – novamente o interrompi apreensivo.

         Houve um suspense, diante de minha curiosidade. Se não me engano, na sala estavam presentes quase todos os filhos e tia Rosa (a outra, não aquela famosa, que me causava aborrecimentos e eu a ela), além de alguns outros primos meus.

         – Bem – meu tio rompeu seu silêncio estratégico – lembro como hoje. Você levantou-se da queda do animal, passou a mão na cabeça, sacudiu a areia do corpo e disse: “Arre, cão!”.

         Todos riram da maneira como o tio contou o episódio, inclusive eu.

         Depois acrescentou:

         – Menino é bicho muito resistente. Mesmo tendo o corpo frágil como tinha você, que havia puxado a seu pai, não caindo de mau jeito, apenas reclama, levanta-se e continua a vida como se nada tivesse acontecido. Você não sofreu nada, só a queda. Saltei do meu animal, apanhei você do chão e coloquei novamente no meio da carga.

         Agora, quando refaço essa viagem espiritual à minha infância, através das palavras de meu tio Toinho e das cartas e documentos que ele me entregou – pois a história de meu pai, naquele tempo, se confunde com a minha – sinto-me revigorado. Porque, repito, toda riqueza do homem já está na infância, o resto é apenas questão de desdobramento.

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Nota: Tio Toínho faleceu com 99 anos de idade, ainda na fase da pandemia Convid, mas não foi por causa da gripe, acho que foi coisa mesmo do coração.

 

*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, e-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br.

 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

 


MAIS UM NATAL (2024)

                 Francisco Miguel de Moura*

 

Diante da árvore bela, iluminada,

mais um Natal feliz e verdadeiro,

reconhecendo o Cristo, inda menino

que veio lá do céu pra ser humano

e abençoar, por Deus, o verdadeiro

caminho do saber dos Evangelhos.

Natal é o berço e a família é a luz

da mesma estrela a alumiar Belém.   

Diante de todos, sim, Jesus cresceu

com o coração para trazer à terra

a paz, o amor, e o saber e o bem.

E perdoar e nunca fazer guerra.

________

  * Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

 

sábado, 21 de dezembro de 2024

 




O SEGREDO

           Francisco Miguel de Moura*


 Foi ontem mesmo a cena que componho

me está presente, e ainda sou feliz.

Aconteceu-me a mim como aprendiz

Do amor, aquele que me quero e imponho.

 

Posso conta-la? Nem de pé me ponho!

Tinha um jovem feitiço e olhar contente,

Uma fenda entre os dois dentes da frente

E o seio farto entremostrando o sonho...

 

Logo tomou-me as mãos, deu-me um sorriso,

Lembrando, então, de antiga namorada,

Beijei-lhe o rosto, sem perder o juízo.

 

E ela abraçou-me acarinhando a tez...

Hoje relembro a cena apaixonada

Como se houvesse uma segunda vez.

__________________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

 


DUAS CIDADES IRMÃS    

          Francisco Miguel de Moura*

Duas cidades e um rio,

Que  dois estados se arvoram

de donos, não do abandono

mas habitantes exploram

que são os mesmos no tempo

de mahã, tarde e na noite.

Belas, duas como são!

Morei em ambas, gostando

E numa delas eu vivo

E as duas amo, que amo

De verdade, sim, senhor.

Meu coração se embalança

Nas antigas ruas tortas,

Nas balsas do rio cheio

De anteontem, hoje pontes                      

Pra carro, fumaça, asfalto,

De tudo quanto mal cheira

Ferro, hapitos, fumaceiro...

Meu Deus, o’ quanto, mau cheiro!

Quero uma cidade nova

Onde as vacas vivam,  berrem

No chiqueiro ou no terreiro

Dando seu leite mungido

Tirado à mão: Que beleza

De tudo que não tem mais

E eu neste poema fixo.

__________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

domingo, 8 de dezembro de 2024

 


A CAVERNA DE HOJE

     Francisco Miguel de Moura*


Perdidos nós, em hábeis mil encontros,

não em ruas e bares, noutros pontos,

pelas ondas do ar, por leves fios...

 

São sinais/memes ditos e não ditos

por forma impessoal... E como ruem

os brados diminutos que não vibram?

 

Sobram músicos, poetas e velhotes,

por perseguirem mudos musicais.

Nada há mais do que berros pervertidos

que vão fundindo às redes suciais.

 

Como fazer voltar à sã civil/idade

do homem, da natura, por iguais,

onde a noite é só noite e o dia é dia?

 

Sentimentos se vão ficando atrás

ao fogo da Caverna de Platão,

até os finais momentos do incapaz.

 

A vida já não chega, e se destrói,

por mal cruel, sem dor, artificial.

Perdido é o ser... E a alma se coroe. 

onde a noite é só noite e o dia é dia?

 

Sentimentos se vão ficando atrás

ao fogo da Caverna de Platão,

até os finais momentos do incapaz.

 

A vida já não chega, e se destrói,

por mal cruel, sem dor, artificial.

Perdido é o ser... E a alma se coroe. 

___________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

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