NONATO CIPRIANO E SEU EXÍLIO
Por
Francisco Miguel de Moura*
O poeta Nonato Cipriano nasceu em 06 de agosto de 1968, na
cidade de Itaueira, interior do Piauí. Aos seis anos de idade, sua família, teve
que mudar-se para São Luís (MA). A infância cortada ao meio foi uma
transformação quase traumática. E como é natuaral, levou muito da paisagem e da
beleza da terra do seu nascimento. E possível que já nascera com a inclinação
para a poesia. O fato alimentou-o mais ainda. Chegando a idade mais consciente,
é natural que tenha lido Gonçalves Dias e Casimiro de Abreu, como se nota nas
suas referências.
Mas só agora sai o seu primeiro livro. “Meu Exílio”.
E é necessário que se diga, já nasceu maduro. Assim é que os poetas de
juízo fazem. E é bom que se diga, pra não esquecer, que dos poetas citados lhe ficaram
apenas o tema e aqui e acolá umas pequenas tintas, o que é notável no estreante
de poesia. Assim aconteceu comigo, pois em “Areias”, sutilmente aparecem algo
que lembra Drummond. Tudo isto é muito bom, pois já demonstra um estilo nascente,
mas seguro, apenas com o sentimento guardado por tanto tempo.
Como disse, sua estreia em “Meu Exílio”,
mostra um estilo bastante individual e uno, com segurança no uso do nosso
precioso idioma e com uma técnica de lirismo renovado, diferente de tudo que já
houve no passado literário piauiense e brasileiro. Paisagista, sem exagero ao
expor suas lembranças da tenra infância e o sentimento de amor à terra, à
gente, ao clima, à habitação, ao trabalho que fazia dos seus pais... Seu coração batia forte. Excelentes são os
versos iniciais do livro: “Poema 1978”: Mesmo que me arranquem
/ As raízes de tua leiva / E removam
com o éter /Teu cheiro de minhas narinas...” Para terminar assim: “Ainda
assim serei teu / Filho amado e gentil /Que há de morrer por ti / Oh terra
madre querida!”
Apesar de nascido numa terra em que
a poesia popular campeia, ele não cede ao comum, inventa seu ritmo, do
princípio ao fim do livro. Mas vamos lá
adiante, ao poema “Umbuzeiro”: Colore-me / Com a luz de tuas
arestas / Deixa os perfumes florais / Eclodirem as lembranças / Dos dias de
minha infância” Para terminar assim: “Deixa-me / Reinar teus hemisférios
/ Para entender os mistérios / Que abrem minhas janelas / E sopra o
cheiro do inverno”.
Que belas imagens, que bonitos versos, que
linguagem tão limpa!
Poderia citar muitos outros poemas, mas,
na verdade, seu estilo segue constante. São fortes, sofridos, mastigados de
saudades como se saíssem com o gosto acridoce do caju, uma delícia para os
meninos do seu tempo. A linguagem reflete bem o estado de espírito do poeta no
momento em que se carrega de palavras, rimas e estrofes, explodindo como as
primeiras águas dos nossos riachos e rios.
Mas não somente as paisagens, o que existe fora, está o seu
modo de escrever poetizando, pela forma como saem os seus sentimentos,
pressente-se que estão arraigados na consciência e na alma deste exilado por
força das circunstâncias familiares. Entre suas ferramentas de linguagem, estes
encontros e desencontros da vida vicejam e produzem versos de dor e de prazer.
Se assim digo é porque sei que o poeta não escreve somente por prazer. Porém,
uma vez o poema acabado, claro, ele sente o prazer da criação.
Não precisamos ler tanto, pois os poemas citados são apenas
uma forma de comprovação crítica. Em todo o seu livro encontra uma clara
riqueza de palavras e expressões pouco encontradas em outros poetas. Com isto,
quero dizer da sua feição poética, cheia de beleza e singularidades.
Embora tratando-se de sua estreia, já se pode imaginar a quanto
chegará o poeta Nonato Cipriano. Em outro poema, a expressão “quando meus
olhos neblinam”, numa imagem tão simples e terna que não sei como não
gostar de sua poesia. Por fim, chegamos ao grande poema (não só no tamanho) de
nome “Viagem para um lugar
distante”, digno dos grandes poetas líricos, sem mácula, original
e brilhante, a quem remeto o leitor, antes de quais quer outros.
Que estas palavras
sirvam de alento, mas não só isto; sirvam também de sinal de tropeços que podem
acontecer aos poetas. É não desistir jamais, alinhando a sua lira ao seu “eu”,
que é capaz de fazer milagres na hora do versejar.
Nonato Cipriano, você venceu a primeira viagem poética. E
certamente vencerá no futuro. Quem bem se estreia, abre o caminho. E o caminho é seu. Vamos fazer o que muitos
desejam e não podem. E o que alguns podem, mas não fazem. Que a poesia é o
melhor pão (espiritual) de cada dia. Pois os poetas conversam com Deus.
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*Francisco Miguel de
Moura, poeta e crítico brasileiro, mora em Teresina, a bela capital do Piauí.
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