Francisco Miguel de Moura*
A crônica do dia a dia é feita pelo articulista, o jornalista, o cronista. Se estivesse escrevendo poemas, eu poderia muito bem fazer um trocadilho: “A CRÔNICA DO DIA (que se) ADIA”.
Entrando bem de cheio nos fatos mais recentes, há alguém que acredite nas versões colocadas a público sobre quem matou a Fernanda Lages? Ou a fez suicidar-se? O povo aponta, o povo é inteligente, mas não pronuncia o nome ou os nomes. Porque teria que ser através de um cronista, articulista ou jornalista (o anonimato não vale). E quem deles vai morrer por isto? Poderá morrer no dia seguinte por um tiro pelas costas ou qualquer outra maldade – que ninguém vai saber de onde provém. Os grandes já sabem, Governo, Polícia, Justiça – e todos, como em tácito acordo, calam. Calam porque ninguém quer imolar-se. Um fato, uma história adiada talvez para séculos e séculos à frente, quando ninguém mais dos de hoje viver.
Assim, torna-se difícil escrever. Até mesmo outro
crime muito antigo e semelhante - o ainda lembrado “crime da doméstica”, de
1970 aproximadamente, cujo crime não foi dela (ela é que sofreu o crime).
Assassinato feroz, em seu próprio quarto de dormida, tendo-lhe sido rasgados,
retalhados seios, boca e sei mais lá que outras partes do corpo. Por quê?
A história do
homem é feita de guerras e mais guerras, de crime e mais crimes – crimes
especialmente contra a vida, a liberdade, a saúde, a segurança e o patrimônio
público e/ou privado. O Código Penal deveria ser a nossa Constituição como
cidadãos do mundo. Mas o nosso Código Penal está tão velho que já não merece
fé, pois a sociedade “evoluiu”. Eu diria que, em determinados casos e muitos
acontecimentos, a sociedade “involui”. Que adianta a ciência esbaldar-se para
curar doenças e prolongar a vida em condições favoráveis, quando se sabe que
todo dia se mata, saqueia, seqüestra, incendeia, agora muito mais por causa da
droga? Ou por nada.
Mas dizem que ela também é mestra. Karl Marx escreveu
que “a única ciência que existe é a História,
nela é que as outras vão beber”. Como também dizem os derrotistas que “o que a gente sabe é que com a história não
se aprende nada”, pois os erros se repetem milenarmente.
Mas vamos lá, não sejamos tão derrotistas, sem alguns
exemplos dela, do passado. Nosso passado é ocidental, assim vêm aí os Estados
Unidos e a França, baseados na crônica de J. R.Guzzo, “Veja” (1º/5/2013), aqui
reescrita, para resumir, o que o colunista de VEJA escreveu:
- Lincoln acreditava na superioridade da raça branca, era,
portanto, um “escravagista”. E apresenta suas ideais aos 49 anos, em 1858, dois
anos antes de eleger-se presidente dos Estados Unidos. Inicia no ano seguinte a
guerra contra a separação dos Estados do Sul, que pretendiam manter a
escravidão. Resultado: 600.000 mortes, entre 1861 e l865. Nesse tempo, recusou
a proposta de paz oferecida pelos Estados americanos do sul, que não queriam
mais combater, mas queriam manter a escravidão. “O essencial”, teria dito
Lincoln, “não acabar a guerra, porém
acabar a escravidão”. Mudara de pensamento. Veio a morrer
assassinado por um “escravagista”, logo após a vitória da sangrenta guerra.
Na França foi Robespierre,
personagem símbolo da Revolução Francesa. Ele comandou o chamado “Governo do
Terror”. Até agora ninguém sabe quanta gente mandou para a guilhotina, entre
julho de l793 a julho de 1974; fala-se de 40.000 a 50.000 pessoas. Mas,
depois disto, ele propôs à Assembléia Nacional a abolição da pena de morte.
Contudo foi ele a última cabeça a rolar no instrumento por ele mesmo criado – a
guilhotina.
J. R. Guzzo conclui, assim, citando-o integralmente: “Uma das possíveis lições disso tudo é que
entre idéia e atos há mais coisas do que sonha a nossa vã filosofia – e que a
prudência aconselha a julgar os homens menos pelo que dizem e mais pelo que
fazem (...) Atirar primeiro e pensar depois pode acabar dando nisto: Abraham Lincoln
vira um sórdido racista, e Robespierre, um campeão dos direitos humanos”.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, membro da Academia Piauiense de Letras e da Associação Internacional de Escritores e Artistas, Estados Unidos.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, membro da Academia Piauiense de Letras e da Associação Internacional de Escritores e Artistas, Estados Unidos.
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