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sexta-feira, 25 de abril de 2025

 


          “NOSTALGIAS CANIBAIS” – ODORICO CARVALHO

                                                              Francisco Miguel de Moura*

 

          Acabei de ler o livro de contos de autoria de Odorico Carvalho, filho, denominado “Nostalgias Canibais”.  Não é um livro de fácil leitura, nem por isto deixa de ser inteligente e instigante. Um estilo uno e diferente do que tenho lido ultimamente, em matéria de contos.

          Depois da leitura, me perguntei: Será um novo modo de enfrentar uma das mais difíceis formas literárias que existem, o conto? O conto, por si só é muito difícil, mais do que o romance, do que a novela, do que a crônica. Os personagens de Odorico Carvalho são facilmente encontráveis em nosso mundo atual, tão cheio de pessoas por demais egoístas e por isto mesmo difíceis de serem reconhecidas, sejam familiares, colegas, companheiros de um dia, ou que se queiram socialmente como amigos. Daí as abundantes distorções que chegam a levar o outro até a morte, e, como os selvagens,  psicopatas e políticos de hoje, a maioria transtornados por motivos do poder que exercem, ou até por banalidades. Essas distorções aparecem na vida e na arte.

          Um dos contos que mais apreciei foi o de nome “Os Gatos”, de mais fácil leitura e porque o autor nele se desprende de uma linguagem semi-barroca como a do primeiro conto de “Paraíso Canibal”, que, além de alongado e por isto mesmo eu diria de episódios repetitivos, o que não acontece nos demais contos, felizmente.

           Uma outra peça que muito me chamou a atenção foi a “História da Feiura”, que diria ser um misto de ficção e ensaio, um tema difícil. Visto assim, se considerarmos que todas as pessoas, enquanto criaturas, são belas, pois feitas à imagem de Deus. Mas nós, como pessoas, é que somos desiguais, cada é cada um, e pronto. No caso do conto em discussão, meu registro é que o ser feio mesmo é somente aquele filho que a mãe o considere feio, tal como o personagem do conto de Odorico Carvalho, que acaba entregando-se a uma médica-cirurgiã, para reformulação do que Deus criou. Um conto excelente que, se o autor se dispusesse, bem poderia transformá-lo em parte de um romance, que sucederia após o personagem, mesmo operado da feiura, não se considerasse um bonito em verdade: E aí ação continuaria para um difícil e fabuloso romance.

          Sugestões à parte, o que interessa, aqui mesmo, é que o livro de Odorico Carvalho, filho, é uma singular obra contística, trazendo novidades dentro de uma visão literária que está quase morrendo, no Brasil: o conto. Novidade no estilo, na força da diferença e na sugestividade dos temas. Por tudo isto, posso dizer que o autor, Odorico Carvalho, acaba de  inscrever-se com força, e  tão bem, na literatura, não só do Piauí, como do Brasil.

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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina-PI

 

 

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