“NOSTALGIAS CANIBAIS” – ODORICO CARVALHO
Francisco
Miguel de Moura*
Acabei de ler o
livro de contos de autoria de Odorico Carvalho, filho, denominado “Nostalgias Canibais”. Não é um livro de fácil leitura, nem por isto
deixa de ser inteligente e instigante. Um estilo uno e diferente do que tenho
lido ultimamente, em matéria de contos.
Depois da leitura, me perguntei: Será um novo modo de
enfrentar uma das mais difíceis formas literárias que existem, o conto? O
conto, por si só é muito difícil, mais do que o romance, do que a novela, do
que a crônica. Os personagens de Odorico Carvalho são facilmente encontráveis em
nosso mundo atual, tão cheio de pessoas por demais egoístas e por isto mesmo difíceis
de serem reconhecidas, sejam familiares, colegas, companheiros de um dia, ou
que se queiram socialmente como amigos. Daí as abundantes distorções que chegam
a levar o outro até a morte, e, como os selvagens, psicopatas e políticos de hoje, a maioria
transtornados por motivos do poder que exercem, ou até por banalidades. Essas
distorções aparecem na vida e na arte.
Um dos contos que mais apreciei foi o de nome “Os Gatos”, de mais fácil leitura e
porque o autor nele se desprende de uma linguagem semi-barroca como a do
primeiro conto de “Paraíso Canibal”, que, além de alongado e por isto mesmo eu
diria de episódios repetitivos, o que não acontece nos demais contos, felizmente.
Uma outra peça que
muito me chamou a atenção foi a “História
da Feiura”, que diria ser um misto de ficção e ensaio, um tema difícil.
Visto assim, se considerarmos que todas as pessoas, enquanto criaturas, são belas,
pois feitas à imagem de Deus. Mas nós, como pessoas, é que somos desiguais,
cada é cada um, e pronto. No caso do conto em discussão, meu registro é que o
ser feio mesmo é somente aquele filho que a mãe o considere feio, tal como o
personagem do conto de Odorico Carvalho, que acaba entregando-se a uma médica-cirurgiã,
para reformulação do que Deus criou. Um conto excelente que, se o autor se
dispusesse, bem poderia transformá-lo em parte de um romance, que sucederia
após o personagem, mesmo operado da feiura, não se considerasse um bonito em
verdade: E aí ação continuaria para um difícil e fabuloso romance.
Sugestões
à parte, o que interessa, aqui mesmo, é que o livro de Odorico Carvalho, filho,
é uma singular obra contística, trazendo novidades dentro de uma visão
literária que está quase morrendo, no Brasil: o conto. Novidade no estilo, na
força da diferença e na sugestividade dos temas. Por tudo isto, posso dizer que
o autor, Odorico Carvalho, acaba de inscrever-se com força, e tão bem, na literatura, não só do Piauí, como do
Brasil.
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*Francisco
Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina-PI
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