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sábado, 3 de maio de 2025


 ALMA PENADA

        Francisco Miguel d e Moura*

 

Alma que vive ao o lixo e à poeira

da estrada da vida, em desalinho,

não reclama sequer um descaminho,

porque o mundo não tem eira nem beira.

 

Alma sem palma, em passos desavindos,

corpo ferido, sangra... E é desprezada 

à voragem do tempo, amortalhada,

sem vez nem voz, os dias lhe são findos.

 

Sem sentir os que passam com motejo,

nem mais outra alma vil, destrambelhada,

que murmura: – Infeliz bicho! O que vejo?

 

Chegando ao fim do único desejo,

o de morrer, a triste alma penada

sente a ave do céu trazer-lhe um beijo.

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 *Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro

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