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sábado, 8 de janeiro de 2011

HIERARQUIA DOS VALORES HUMANOS

Francisco Miguel de Moura*


Estive refletindo poética e filosoficamente – esta é a minha maneira – em encadear nossos valores numa escala bem lógica. Deve existir uma hierarquia entre eles. Talvez não aquela das dez tábuas de Moisés, que está longe de nós e do cristianismo, por mais que queiram nos impingir as religiões derivadas da Bíblia. Depois da história dos judeus veio Jesus, e este disse que era o filho de Deus e que veio para salvar o mundo. Disse mais a seu respeito: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” e foi ele também quem trouxe o verdadeiro mandamento do amor, o “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” e o “não julgueis e não sereis julgados”.

 Mas deixemos a Bíblia e as doutrinas religiosas aos que são seus pregadores e partamos para o nosso saber atual, o do senso comum, no estado laico em que vivemos. Neste, a vida é a essência de tudo, esse é o primeiro valor. Todas as coisas do mundo são medidas pelo homem em seu benefício, pelos sentimentos e imagens que lhe despertam o cérebro.

A vida seria tudo, mas, depois da vida, naturalmente vem a saúde. Vida sem saúde é uma vida incompleta. A doença é uma falta ou excesso que alguns homens impõem a si mesmos, quando não é um castigo de Deus ou da natureza.

Em seguida, vem o terceiro valor: a liberdade. Podemos considerar a liberdade como o espírito, não mais o corpo, não mais a soma. É a essência do espírito. Ela completa a saúde e ambas completam a vida. Completariam? É o que vamos ver.

Não, o homem é um animal social por excelência. Na sua convivência com os outros, quer ser reconhecido e amado. Em troca, os demais membros exigem reciprocidade. Isto é o humanismo, o amor, a solidariedade. E não é pelo amor que se transfere a herança genética aos filhos, através dos quais o homem se perpetua como espécie? É, e é também pelo amor que se processa a comunhão dos homens, a sociabilidade, a complementaridade. Porque “nenhum homem é uma ilha” e ninguém, nenhum homem é completo, por mais, belo, inteligente e forte que seja.

Mesmo assim, ainda falta um quinto valor humano. Um valor que tem ânsias de sufocar os demais porque representa o poder de um sobre outro, de uns sobre os outros, principalmente. E, por fim, o poder sobre as coisas. É o dinheiro.

Os menos avisados diriam que nisto se resume a vida do homem.  Não sei se seria bom que isto fosse verdade. Mas o homem quer mais. O homem deseja ardentemente ser mais, ter mais, gozar mais, viver mais, e mais gastar. E quando se vê fora dessa ilusão é que procura Deus, pedindo ajuda. É a ligação com o todo. O homem é uma parte desse todo, embora a parte mais nobre, julgamos. Mas, parte é parte, existe separada do todo, mas nunca satisfeita, quer ter conhecimento do todo, porque é limitada. Quer integrar-se, não quer morrer. Daí o apelo para a religião.
 
Finalizando, não sabemos se há outra vida, se a gente transcende. Não temos certeza sequer se há um Criador de tudo ou tudo sempre existiu e sempre existirá, sem propósito qiue não seja o próprio movimento do existir. O homem sabe que nada sabe, dizia Sócrates. Mas depois dele, veio outro filósofo cujo nome esqueci, e esse acrescentou: “Eu nem sei se não sei de nada.” Complicado, não é?  Sim, porque “viver é perigoso”, como disse o poeta Mário Faustino, por estas e outras coisas. Mas, na verdade, não queremos jamais deixar a vida, que nós recebemos de graça, por uma duvidosa outra vida, a eternidade.

É, pois, assim que, humildemente, fechamos o círculo dos valores humanos hierarquizados pela parte nobre da natureza – o homem.
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*Francisco Miguel de Moura, poeta e prosador brasileiro, é membro da APL, da ALERP, da UBE-SP e da IWA-(Associação Internacional de Escritores e Artistas), com sede nos Estados Unidos.

5 comentários:

  1. Tocante.
    Como é bom ler seu blog. Não me canso de repetir isso, né?

    Bom fim de domingo!

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  2. Olá Sr.Chico Miguel

    O sr.acha mesmo que o homem é a parte nobre da natureza?Eu tenho as minhas dúvidas.

    abraço, tudo de bom!

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  3. eu tenho dúvida também, Wanda, sobre essa "verdade" que o mundo inteiro prega. E como não sou ou D.Quixote, no máximo serei um Dom Xicote, então segui nessa corrente.
    Mas, bem podemos ver que nem todos os homens valeriam a pena ficar incluídos nessa otimista classificação.
    De toda forma, suas sugestões sempre me interessam e fazem a gente repassar o que escreve.
    Obrigado, sua inteligêcia é brilhante e tem me ajudado.
    Abraços de muito afeto
    chico miguel de moura

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  4. Muito bom este texto, faz refletir sobre nós e o mundo.Gostei!

    Abraço

    André Santos

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  5. Linkedinrh,

    Nome complicado o teu ou de teu blog.Venho agradecer tua passagem por ele também o conceito e elogio.
    Com relação aos teus, acredito que não soube acessá-los, por isto deixo aqui a minha inquietação sincera
    Atenciosamente
    franciscomigueldemoura

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