TRADUÇÕES
de
FRANCISCO
MIGUEL
DE
MOURA
FRANCISCO
MIGUEL
DE
MOURA
NO DESERTO
No deserto, eu vi
Uma criatura nua, bestial,
Agachada no chão,
Segurando o coração nas próprias mãos,
Comendo, comendo-o.
Perguntei, então:
– Isto é bom, amigo?
E ele respondeu-me:
– É amargo, amargo. Mas
Eu gosto dele
Porque é amargo
E porque é meu.
IN THE DESERT
Stephen Crane
(poeta estadunidense)
In the desert
I saw a creature, naked, bestial,
Who, squatting upon the ground,
Held his heart in his hands,
And ate of it.
I said, “It is good, friend?”
“It is bitter – bitter”, he answered,
“But is like it
Because it is bitter,
And because it is my heart.”
UM DEUS EM CÓLERA
Era um deus em cólera. Vi-o
Batendo num homem
Ruidosamente.
Feias pancadas tiniam.
E o levou ao chão.
Muitos vieram vê-lo,
Correndo.
O homem na luta se esguelava,
Loucamente mordia os pés de deus.
A multidão apenas gritava:
«Ah, que malvado homem!»
E -
«Ah, que formidável deus!»
A GOD IN WRATH
Stephen Crane (187l-1900)
(poeta estadunidense)
A god in wrath
Was beating a man:
He cuffed him loudly
With thunderous blows
That rang and rolled over the earth.
All people came running.
The man screamed an struggled,
And bit madly at the feet of the god.
The people cried,
“Ah, what a wicked man!”
And –
“Ah, what a redoubtable god!”
A FLEXA E A CANÇÃO
Atirei uma flecha no horizonte
E ela caiu em terra, não soube onde;
Porque, de tão veloz que voou, a vista
Não poderia seguir a sua pista.
Atirei uma canção no horizonte
E ela caiu em terra, não soube onde;
Pois quem tem vista forte e penetrante
Capaz de acompanhar o som viandante?
Mais tarde e longe, num carvalho enfiada,
Eu vi, inteira, a flecha arremessada;
E a canção, do início ao fim, consigo
Achar depois, no peito de um amigo.
THE ARROW AND THE SONG
Henry W. Longfellow(1807-1882)
(poeta estadunidense)
I shot an arrow into the air,
I fell to earth, I knew not where;
For, so swiftly in flew, the sight
Could not follow it in its flight.
I breathed a song into the air,
I fell to earth, I knew not where;
For who has sight so keen and strong
That it can follow the flight of song?
Long, long afterward, in an oak
I found the arrow, still unbroken;
And the song, from beginning to end,
I found again in the heart of a friend.
MORRI PELA BELEZA
Morri pela beleza. Porém ainda há pouco
Tempo me acostumara à moradia nova,
Quando alguém que pela verdade se fora
Foi posto vizinho à minha cova.
E perguntou baixinho porque eu tombara.
«Pela beleza», respondi-lhe. «E eu,
Pela verdade. Não são a mesma cousa?»
«Somos irmãos», ele me respondeu.
E ficamos conversando de uma a outra cova,
Encontrados na noite e, assim, parentes,
Até que o musgo alcançasse os nossos beiços
E cobrisse os nossos nomes completamente.
I DIED FOR BEAUTY
Emily Dickinson (1830 -1886)
(poeta estadunidense)
I died for beauty, but was scarce
Adjusted in the tomb
When one who died for truth was lain
In an adjoining room.
He questioned softly why I failed,
“For beauty” I replied
And I for truth. Themself are one.
We brethren are” he said.
And so, as kinsmen met a night,
We talked between the rooms,
Until the moss had reached our lips
And covered up our names.
NÃO SOU NINGUEM
Não sou ninguém. Quem é você?
Você não é ninguém também?
Então há um par de «nós».
Não diga nada - você sabe, nos baniram.
Quão melancólico ser alguém
Tão público - que nem uma rã,
A dizer o nome durante junho inteiro
A um venerando pântano.
I’M NOBODY, WHO ARE YOU?
Emily Dickinson (1830 -1886)
( poeta estadunidense)
I’m nobody. Who are you?
Are you nobody too?
Then there’s a par of us.
Don’t tell – they’d banish us, you know.
How dreary to be somebody,
How public – like a frog –
To tell you name the livelong June
To an admiring bog.
OS CIRURGIÕES...
Os cirurgiões devem ter muito cuidado
Quando tomam de um bisturi.
Debaixo de suas belas incisões
Move-se o réu - a vida, a vi...
SURGEONS…
Emily Dickinson(1830 – 1886)
(poeta estadunidense)
Surgeons must be very carefull
When they take the knife.
Underneath their fine incisions
Stirs the culprit, life.
SONETO DA CARTA
Amor de minha entranha, escuro flerte,
em vão espero uma cartinha tua,
e penso, como a flor murcha da rua,
que se vivo sem mim, quero perder-te.
Nosso ar é imortal, e a pedra incrua,
não conhecendo a sombra - não a evita,
coração interior não necessita
do mel gelado que nos verte a lua.
Porém sofri por ti, sangrei, fiz cenas,
tigre e pomba, em tua volta, o` criatura,
em duelo de mordiscos e açucenas.
De vozes me enche, oh, vem, minha loucura!
Ou deixa-me viver com minha penas
a noite da alma para sempre escura.
SONETO DE LA CARTA
Frederico García Lorca (1898-1936)
(poeta espanhol)
Amor de mis entrañas, viva muerte,
en vano espero tu palabra escrita
y pienso, con la flor que se marchita,
que si vivo sin mi quiero perderte.
El aire es inmortal. La piedra inerte
ni conoce la sombra ni la evita.
Corazón interior no necesita
la miel helada que la luna vierte.
Pero yo te sufrí. Rasgué mis venas,
tigre y paloma, sobre tu cintura
en duelo de mordiscos y azucenas.
Llena, pues, de palabra mi locura
o déjame vivir en mi serena
noche del alma para siempre oscura.
UMA ESTAÇÃO DO METRÔ
O fantasma destes rostos na massa
Pétalas na umidade, galho de árvore-graxa.
A STATION OF THE METRO
Ezra Pound (1885 – 1972)
(poeta estadunidense)
The apparition of these faces in the crowd;
Petals on a wet, black bough.
OBSERVAÇÕES:
1. A seleta apresentada não inclui nenhuma das versões constantes do livro - sua maior parte.
2. O livro mencionado está registrado na secção de direitos autorais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, de forma qualquer cópia que não cite a fonte - é considerado furto de direitos autorais, por isto sujeito às sanções da lei.
3. "POEMAS TRADUZIDOS", de autoria de Francisco Miguel de Moura, poeta e tradutor brasileiro, residente em Teresina, Piaui, Brasil, foi editado pela Gráfica e Editora Júnior Ltda., Teresina, Piauí, 1993, com 32 páginas, incluindo a capa, de autoria de Fritz Miguel
2. O livro mencionado está registrado na secção de direitos autorais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, de forma qualquer cópia que não cite a fonte - é considerado furto de direitos autorais, por isto sujeito às sanções da lei.
3. "POEMAS TRADUZIDOS", de autoria de Francisco Miguel de Moura, poeta e tradutor brasileiro, residente em Teresina, Piaui, Brasil, foi editado pela Gráfica e Editora Júnior Ltda., Teresina, Piauí, 1993, com 32 páginas, incluindo a capa, de autoria de Fritz Miguel
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de "Poemas Traduzidos"
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